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ANÁLISE DE CONJUNTURA: Amazônia continua no foco do debate

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A VF Corporations – holding que inclui marcas de calçados e acessórios como Timberland, The North Face, Vans e Kipling – confirmou à imprensa que suspendeu a aquisição de couro brasileiro até que se adotem no Brasil boas práticas ambientais de produção. A atitude decorreu da repercussão negativa, de dimensão internacional, da disseminação de queimadas na Amazônia. E há possível associação dos incêndios na região com a pecuária ali desenvolvida.

As queimadas renderam pronunciamentos por parte de diversas autoridades mundo afora. O presidente da França, Emmanuel Macron, por exemplo, em coletiva de imprensa realizada na reunião de cúpula do G7 (o grupo de países mais ricos do mundo), definiu como prioritária a pauta da Amazônia, chegando a declarar que o povo francês é “amazônico”, por conta da fronteira de mais de 700 quilômetros da Guiana Francesa com o Brasil.

Macron também insistiu que o acordo comercial idealizado entre a União Europeia (UE) e o governo brasileiro corre o risco de não acontecer, se o presidente Jair Bolsonaro não respeitar as exigências do Acordo de Paris sobre o clima. Tal afirmação, no entanto, foi recebida com frieza por Alemanha e Reino Unido, que criticaram a atitude do governo brasileiro em relação à Amazônia mas afirmaram que impedir o acordo entre Mercosul e UE não seria a solução mais adequada.

O líder britânico, o primeiro-ministro Boris Johnson, alfinetou o presidente francês dizendo que “há todo tipo de pessoa que utilizará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais”. O governo espanhol também se posicionou contrário à obstrução do acordo.

Outros líderes mundiais fizeram declarações via Twitter, como António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que se disse “profundamente preocupado” com os incêndios e alertou que “a Amazônia deve ser protegida”.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, comentou que os “desmatamentos na Amazônia cresceram 67% desde que ele [o presidente Jair Bolsonaro] chegou ao poder”. Comparou Bolsonaro a Nero, imperador romano acusado de atear fogo em Roma.

O governo da Finlândia, hoje na presidência rotativa da UE, pediu urgente avaliação da suspensão de importação da carne brasileira em resposta à destruição da floresta amazônica. O premiê da Irlanda, Leo Varadkar, declarou-se desfavorável ao acordo entre UE e Mercosul se o Brasil não respeitar seus compromissos para com o meio ambiente. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, apoiou, em reunião do G7, a necessidade de se debater a questão em âmbito internacional, sendo endossado por Emmanuel Macron via Twitter.

A mídia internacional também repercutiu as queimadas. O jornal inglês The Guardian noticiou a fala de Bolsonaro sobre as ONGs serem culpadas pelo aumento dos incêndios florestais. Já a revista National Geographic relacionou o aumento do número de queimadas ao desmatamento crescente na região.

O jornal The New York Times apontou a pecuária como principal vilã do desmatamento, e Bolsonaro, como o culpado. A emissora alemã de televisão Deutsche Welle analisou o impacto do fim de repasses do país ao Fundo Amazônico, uma vez que Angela Merkel é contra as políticas adotadas pelo presidente francês.
O italiano La Repubblica estampou na capa a manchete “O mundo contra Bolsonaro” e apontou como ínfimo o envio de militares para o combate aos incêndios. Na França, enquanto o Le Figaro destacava os esforços do G7 para estimular o combate às chamas, o Le Monde focava a crise diplomática entre Brasil e França, noticiando, inclusive, protestos de bolsonaristas em frente à Embaixada da França.

Vídeo que circulou na internet mostrou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticando Macron pela postura adotada em relação ao Brasil. “Você errou com o Brasil”, disse Trump ao se encontrar com Macron para a reunião do G7. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viajaram aos Estados Unidos para agradecer a Trump o apoio dado ao Brasil.

A Amazônia continuará em destaque esta semana. Bolsonaro decidiu enviar nove ministros à região para discutir a crise ambiental com governadores locais. A primeira etapa do encontro será em Belém, no dia 2, e a outra em Manaus, o dia 3. Participam da comitiva os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira; da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos; da Defesa, Fernando Azevedo; da Agricultura, Tereza Cristina; do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves; de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Na sexta-feira, Bolsonaro participa, na Colômbia, de uma reunião com países que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname) para discutir uma política única de preservação do meio ambiente e de exploração da região de forma sustentável. No sábado, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, viaja para a Inglaterra com o objetivo de estreitar relações com o “novo governo” britânico e conversar sobre a situação na Amazônia.

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