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Manifestações mostram força da “nova política”

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Os simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltaram às ruas nesse domingo (30) para significativas manifestações de apoio à Operação Lava-Jato, ao pacote anticrime prometido pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e à Reforma da Previdência. Segundo levantamento realizado pelo G1, até as 19 horas foram registradas manifestações em 86 cidades de 25 estados e no Distrito Federal.

A pauta principal dos manifestantes foi a defesa do ministro Sérgio Moro, que vem sendo questionado em função da divulgação, pelo site The Intercept Brasil, de supostas conversas que ele teria mantido com integrantes do Ministério Público na época em que era juiz federal e estava à frente da Lava-Jato, em Curitiba.

Vale registrar que Moro incentivou a base bolsonarista a ir às ruas por sua conta no Instagram. No dia anterior às manifestações, o ministro postou nos stories do aplicativo frases em favor do ato. E durante o dia de hoje replicou nos stories quem o marcava nas postagens. Além disso, a hashtag “Brasil nas ruas” foi o assunto mais comentado no Twitter.

Embora a abrangência dos protestos tenha sido menor que a do dia 26 de maio, quando 156 cidades dos 26 estados e do DF fizeram atos de apoio ao Palácio do Planalto, novamente foi possível constatar uma forte disposição de grupos liberais e conservadores – que compõem a base social bolsonarista e de apoio à Lava-Jato – de defender a agenda do governo.

O fato de esta manifestação ter agregado menos gente que a do mês passado pode ser atribuído à dificuldade de levar constantemente o povo às ruas. Em especial, num ambiente de crise econômica e com perda de popularidade do governo junto às parcelas da sociedade que votaram em Bolsonaro, mas que hoje têm uma postura mais crítica em relação ao presidente.

No entanto, o ato desse domingo reforça o apoio que a Lava-Jato possui junto à opinião pública, o que representa uma vitória para o ministro Sérgio Moro. Vale registrar que pesquisa do instituto Paraná divulgada na semana passada apontava que para 56,1% dos entrevistados suas supostas conversas com integrantes do MP não colocam sob suspeição a Lava-Jato.

Em outra pesquisa, o mesmo instituto indicou que 58% entendem que o ex-presidente Lula (PT) deve continuar preso na sede da Polícia Federal (PF) em Curitiba (PR). Os números dessas sondagens revelam que, apesar de o apoio à Lava-Jato ter diminuído entre o establishment político, o respaldo à operação perante a opinião pública continua significativo.

Nas redes sociais é possível observar que as manifestações de apoio às reportagens do The Intercept são restritas aos seguidores do lulismo. A força da Lava-Jato é positiva para Bolsonaro. Com a capacidade de mobilização demonstrada por sua base social, nota-se que a estratégia do presidente de comunicar-se constantemente com essa base, fazendo sinalizações, garante a ele um piso de apoio popular entre 25% e 30%, ainda que isso gere ruídos com o Congresso.

Com os bolsonaristas dispostos a sair às ruas em defesa do que se passou a chamar de “nova política”, o barulho e a pressão sobre o Congresso tendem a continuar fortes. Mesmo que muito se fale sobre a incapacidade de governar sem ceder ao presidencialismo de coalizão, Bolsonaro conta com um ativo importante: base social mobilizada e disposta a defendê-lo nas ruas.

Apesar de essa mobilização não garantir governabilidade ao presidente, as sucessivas manifestações a seu favor denotam que parte importante da população tomou gosto pelas ruas. Esse fato reafirma o que os protestos de junho de 2013 já mostravam: a “velha forma de fazer política” não é mais aceita por certo setor da classe média urbana que possui capacidade de produzir ruídos e impactar o jogo político.

Mobilizando-se através das redes sociais, que representam um valioso instrumento de poder fora do controle estatal, mas que ainda não foi compreendido pela política clássica, o bolsonarismo e a Lava-Jato seguem em vantagem no embate de narrativas com o establishment.

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