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O dólar é o termômetro da política e a medida das expectativas

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Murillo de Aragão e Gabriel Goldfajn

Na semana passada, o dólar voltou a renovar máxima de R$4,11, o maior nível desde setembro do ano passado, quando o país enfrentava o turbulento processo eleitoral que elegeu o atual presidente Jair Bolsonaro. Se na época a razão de preocupação dos investidores era com a possível volta do candidato do PT à presidência da República, dessa vez a problema se deve as conturbações do governo com conflito que tem se desenhado entre o planalto e o congresso, intensificado pelas denúncias do Ministério Público ao filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e a forma como o governo lidou com os protestos dessa semana contra o contingenciamento nos gastos da educação.

Assim, o sentimento de incerteza em relação as medidas de consolidação fiscal, das quais a mais importante é a reforma da previdência, tem criado um consenso negativo no mercado, que tem gerado demanda por dólares no mercado de capitais, elevando a taxa de câmbio para com a moeda americana. O patamar alcançado hoje é uma marca da relevância dos fatores políticos sobre a dinâmica do fluxo de capitais, uma influência acentuada pela presença de um fator binário, de apenas dois cenários possíveis, na dinâmica política nacional, como é o caso da aprovação ou não da reforma da previdência.

Essa situação de alta na dinâmica da paridade de moedas, também se reflete na Argentina, onde o dólar chegou a bater AR$46,20 em relação ao peso argentino hoje, devido a fenômenos políticos. No caso do país vizinho, a dinâmica de alta do dólar advém desde o mesmo período do ano passado, quando uma crise cambial foi criada após o congresso argentino aprovar uma lei que barrava a subida das tarifas pelo governo Mauricio Macri.

Desde então, a incapacidade do governo Cambiemos de gerar resultados positivos na economia (PIB recessivo e inflação em mais de 50% ao ano), mesmo após a ajuda do FMI e aplicação de um regime de metas cambiais pelo BCRA, tem criado apreensão dos investidores na volta de Cristina Kirchner ao poder e mantido o dólar em patamares estratosféricos.

Hoje, essa dinâmica na Argentina foi intensificada pelos problemas brasileiros, numa forma de contágio da dinâmica do câmbio. As altas nos países latino americanos são reforçadas por fatores políticos internacionais com a intensificação da disputa comercial entre China e os EUA, as duas maiores economias globais. Essas, que resultaram em aumentos tarifários no fluxo de comércio entre os dois países, diminuíram o apetite por risco de investidores internacionais, que tendem a retirar investimentos de economias emergentes, impulsionando a dinâmica da retirada de fluxo de capitais locais.

Para muitos, a valorização do Dólar reflete a perda do “momento mágico” do governo. Com quase seis meses, as confusões em Brasília demoliram as expectativas positivas para o ano. Existe ainda uma crítica – que ganha volume dia após dias – de que a equipe econômica demorar em tonar decisões que melhorem o ambiente de negócios no país. No Palácio do Planalto, começa-se a questionar se a equipe poderá tirar “coelhos da cartola” para animar a economia e romper a aparência de inércia.

Enquanto nada acontece, o dólar irá refletir as incertezas de Brasília.

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