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Previdência: o fantasma Kandir sobre um (de novo) PSDB vacilante

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Em 1998, o governo FHC conseguiu a proeza (dada sua impopularidade na época) de obter o limite do limite dos votos necessários para aprovar a mudança na idade mínima da reforma da Previdência. Em uma tarde de votações tensas, o pênalti decisivo caiu nos pés do deputado tucano e ex-ministro Antônio Kandir.

Pior do que os erros de marcação na final contra a França naquele mesmo ano, Kandir fez o improvável e se absteve da votação. Faltou um voto: o dele.

Foi um erro ou um “erro”? Não importa, o que ocorreu ali colaborou e muito para o déficit da Previdência que vivemos hoje. É claro que, aprovada na época, ainda estaria longe da perfeição. Mas não estaríamos nesse desespero.

Previdência: uma segunda oportunidade para o PSDB

Assim como no futebol, a política gosta de apresentar segundas oportunidades para a redenção de equívocos do passado. Kandir há muito se aposentou, mas seu PSDB, apesar de agir como um partido aposentado em diversas vezes, segue na ativa, ainda que sem se compreender quando encara um espelho.

Passados 18 anos desde Kandir, a condição determinante para que o partido ingressasse na coalizão pós-impeachment era nada menos do que a aprovação da reforma da Previdência. Com economistas brilhantes e políticos hesitantes, o PSDB sabia que a Previdência era uma mulinha carregando infinitamente mais peso do que aguenta. Naquele momento, em julho de 2016, os tucanos mostravam pulso e bradavam: sem Previdência, não há coalizão.

O ano se desenrola com crises e mortes políticas. O governo sobrevive a ataques legítimos e outros nem tanto. O PSDB segue falando da Previdência e de que “não temos tempo a perder”. Seus ministros Bruno Araújo, Aloysio Nunes e posteriormente Antônio Imbassahy são frequentemente elogiados no Palácio do Planalto.

O esmagador peso eleitoral

O governo segue mas com a popularidade rasteira. Essa, que era firmemente ignorada, passa a ser preocupante à medida que o ano eleitoral se aproxima. O peso eleitoral tende a esmagar o valor da importância de outros projetos e objetivos. É exatamente neste momento que nos encontramos.

Deputados que votariam a favor da reforma da previdência se colocam em dúvida. Por quê? Eleições. Deputados que lutavam abertamente a favor agora estão calados. Por quê? Eleições. O PSDB que “a la Baggio” isolou o pênalti decisivo e só entrou no governo por conta da previdência está quieto e em dúvidas. Por quê? Eleições, é óbvio.

Kandir pode ter de fato errado o botão na hora da votação. Ou pode ter deliberadamente feito o que fez por convicção. Independente da razão, se trata de um erro, ou equívoco, menor do que o que os tucanos estão fazendo nesse momento. Estão virando as costas para o argumento principal de sua entrada no governo. Qualquer coisa, além de fechar questão para essa votação não só representa uma esquizofrenia política, mas coloca em dúvida até que ponto o PSDB tem força para liderar o país em um momento tenso e complicado que durará no mínimo mais 4 anos.

Eleição é a convocação, Previdência é a Copa do Mundo.

Publicado na GQ Brasil em 07/12/2017

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