Início » A liderança esquerdista em xeque na América Latina
Uncategorized

A liderança esquerdista em xeque na América Latina

A+A-
Reset


O presidente da Bolívia, Evo Morales, já não esconde que pretende reverter o quadro político local e apresentar-se para uma nova reeleição nas eleições de 2019. Em fevereiro de 2016, os bolivianos foram às urnas e derrotaram em referendo, a pretensão de Morales de disputar indefinidamente a presidência do país. Foi sua primeira e única derrota da esquerda em quase 12 anos no poder.

Há época, como parece ser regra entre governos de esquerda, ele preferiu atacar o que chamou de “guerra suja” perpetrada por parte da oposição supostamente financiada pelos Estados Unidos. Em momento algum houve qualquer tipo de autocrítica.

Também à época, ele destacou ter perdido uma batalha e não a guerra. Em 2015, o mesmo Morales havia sido reeleito com 60% dos votos. No referendo, obteve 48% dos votos. Como resposta àqueles que esperavam uma reflexão acerca do que teria levado a maioria dos bolivianos a votarem contra o seu líder, o presidente seguiu trabalhando para viabilizar o seu projeto político.

Ele também pretende tirar proveito da reeleição de Angela Merkel, na Alemanha, para dar musculatura ao seu discurso, uma vez que democraticamente, a ideia teria sido sepultada com o referendo que o derrotou. A Alemanha seria o argumento ideal para derrubar a tese de que reeleições indefinidas são maléficas para a democracia. Por trás dessa intenção, está a liderança esquerdista na América Latina.

Com Cuba e Venezuela combalidos, o Equador sob nova direção e o Uruguai à mercê de Argentina e Brasil, resta a Bolívia como remanescente de um eixo que já ditou a política regional recente. Mas, a insistência de Evo Morales pode produzir resultados ainda mais catastróficos.

Sua decisão de disputar mais um mandato ou mandatos indefinidos contraria a Constituição e, em tese, pode representar um golpe, caso seja levado adiante.

Pesquisa realizada pelo instituto Mercados y Muestras divulgada neste domingo, 1º, revela que 65% dos bolivianos não têm dúvidas que Morales buscará meios e brechas para apresentar-se. Diz ainda que 29% acreditam que ele pode fazer isso. Para 63%, Morales está impedido.

É bom ressaltar que as eleições na Bolívia ocorrerão no ano em que o Brasil deverá ter um novo governo e um novo Parlamento, por onde deverá tramitar o futuro contrato de importação de gás, principal produto de exportação daquele país.

Além disso, o Brasil, muito provavelmente, ainda não terá concluído o processo de adesão da Bolívia ao MERCOSUL. São situações que cobram uma avaliação estratégica mais profunda por parte de La Paz.

Morales busca o papel de protagonista em um cenário que já não conta com a família Kirchner e Hugo Chávez, e onde o castrismo está em xeque e, é possível, a esquerda brasileira estará fortemente golpeada pelas urnas de 2018. O que ele quer faz todo o sentido, embora seja ilegal e inoportuno.

Como mecanismos regionais – OEA, CELAC, UNASUL e o próprio MERCOSUL – se posicionarão ante este quadro? A esquerda está cada vez mais isolada na região. Vários fatores a enfraqueceram, inclusive movimentos extrarregionais. Por outro lado, debitar a guinada à direita apenas a fatores já conhecidos seria demais.

Não seria pedir muito se essa mesma esquerda tratasse de refletir sobre o modus operandi implementado na América Latina, suas relações com o poder e os poderosos, e os modelos econômicos alimentados artificialmente. E, também, essa crença de que apenas eles são capazes de produzir transformações.

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Aceitar Saiba mais