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Eleições 2018: todo mundo é refém

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Quem manda no Brasil hoje não é a Presidência, não é o Congresso, muito menos o Ministério Público ou o Supremo. A imprensa também não manda e, infelizmente, nem a sociedade. Quem manda no Brasil é o medo.

“Chegamos a um ponto, que ninguém mais se mexe e ninguém mais conversa”, disse um parlamentar governista. De fato, estamos perto de dar um nó cego em nós mesmos e paralisar o país, literalmente.

A esdrúxula e triste situação é de que todos são reféns de todos. O blefe do que um pode saber em relação ao outro é mais do que o suficiente para neutralizar o inimigo. Além disso, com o enfraquecimento das regras jurídicas, que estão dando um nó nelas mesmas, a publicação das falas, das interpretações e das opiniões, ganhou uma magnitude que, por si só, julga e exime em um universo paralelo do direito.

Lula, Moro e a encruzilhada do PSDB

Esse ambiente, obviamente, acaba por afetar, e muito, as composições e articulações que partidos e personagens estão fazendo para as eleições de 2018. No PT, por exemplo, Lula depende de Moro, que poderá indicia-lo, levando-o a ser julgado em primeira e segunda instância. Ainda no PT, as possibilidades além de Lula passam pela senadora Gleisi Hoffmann. Também com acusações nas costas, Gleisi depende mais da morosidade da Justiça do que de si mesma para ser candidata.

No PSDB, com a saída de Aécio do páreo, sobram Geraldo Alckmin e João Dória como possíveis candidatos pelo partido. Alckmin já teve pessoas próximas mencionadas em algumas delações, mas nada que o inviabilize. Pesa, no entanto, o fato de uma importante ala no PSDB enxergar em Dória uma capacidade maior de derrotar Lula, caso este seja o candidato do PT.

Como o prazo de desincompatibilização é de seis meses antes, o PSDB teria de tomar uma decisão arriscada: descompatibilizar Alckmin sem a certeza que Lula seria o candidato do PT? Colocar Alckmin como candidato mesmo sem a certeza que outros nomes ligados direta ou indiretamente estariam implicados em investigações?

A opção de desincompatibilizar tanto Alckmin quanto Dória criaria um nível de rivalidade desnecessário dentro do partido. Assim, o PSDB provavelmente teria de optar por um deles sem ainda ter todas as informações sobre a mesa, principalmente sobre Lula.

Já o PMDB dificilmente colocará um candidato próprio na disputa. A envergadura nacional do partido ainda o faz como um fortíssimo aliado. No entanto, apesar da tendência ser de uma aliança com o PSDB, a forma como os tucanos irão lidar com o PMDB nos próximos meses indicará se haverá clima para tal união. Caso não aconteça, o PMDB coordenaria uma coligação de partidos médios (talvez com o PSD?) ou lançaria candidato próprio.

Reféns do medo

As decisões não são mais próprias. Não dependem mais do sentimento de um político em ser candidato ou não. Depende muito do medo, das saídas que uns vão encontrar e das boias de salvação que outros terão para se agarrar. Escolher um vice, por exemplo, será tarefa do tipo “resta um” e não necessariamente de composição calculada do melhor resultado possível.

“Realmente, todos são reféns de todos. Não podemos mais optar por alianças e caminhos, estes nos serão colocados pelas circunstâncias.” É o que acredita um parlamentar tucano.

“Com Lula, somos um PT e dependemos das nossas forças, sem Lula, seremos um partido que dependerá exclusivamente do erro dos outros”, lamenta um petista desiludido.

O risco de todos serem reféns de todos é que a qualquer momento algo errado possa acontecer e todos se tornem vítimas, levando o Brasil realmente para as mãos de aventureiros.

Publicado na GQ Brasil em 23/06/2017

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