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Reformas: enquanto não ocorre o debate, contrainformação avança

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As discussões em torno das reformas trabalhista e previdenciária no Congresso deveriam ilustrar um estudo de caso sobre como a informação e a contrainformação prejudicaram esse debate. O governo não foi páreo para enfrentar a guerra de contrainformação deflagrada por aqueles que não querem reforma alguma.

Apesar dos alertas, a questão da comunicação do governo sobre o tema foi deficiente. Tanto por motivos orçamentários, já que o governo Dilma gastou quase toda a verba de publicidade antes de sair, quanto por motivos judiciais, uma vez que as corporações conseguiram, com o apoio velado do corporativismo no Judiciário, barrar a publicidade do governo sobre o assunto.

Para piorar, faltou discernimento para entender que comunicação é muito mais do que ficar na conversinha do círculo íntimo da imprensa de Brasília ou de meia dúzia de formadores de opinião de fora. Comunicação é algo bem mais amplo e envolve práticas que não são nem propaganda, nem assessoria de imprensa.

Viralização da mentira

Outro fator crítico é que a viralização da mentira é muito rápida, demandando um aparato estratégico que permita identificá-la imediatamente para que se possa reagir com eficácia. Seria importante também haver difusores da contrainformação. Mas pouco foi feito.

O resultado é o arrastar da agenda das reformas com uma pesada dose de impopularidade que poderia ter sido atenuada se tivesse havido uma visão estratégica da questão.

O próprio presidente Michel Temer tenta resolver a carência de sua comunicação envolvendo-se diretamente com o tema. Tomou a iniciativa de ligar para comunicadores e se colocar à disposição para explicar o que está sendo feito. A equipe econômica, que já foi mais vocal, parece intimidada pelo debate.

Desconstrução das reformas

Voltando ao estudo de caso, devemos ver como as reformas foram desconstruídas. E, o pior de tudo, a favor da manutenção de privilégios. Inclusive do fascista imposto sindical, que deveria ser abolido para patrões e empregados em sua forma mandatória. Cada um que dê quanto achar que deve dar, conforme ocorre nas associações que funcionam Brasil afora, com base em contribuições voluntárias.

A desconstrução das reformas mostra uma imprensa tímida em adentrar o debate, com medo de adotar uma postura “patronal” ou chapa-branca, quando deveria estudar a questão a fundo e ver que as regras trabalhistas atuais favorecem a miséria, a fome e o desemprego. E que o sistema previdenciário nacional, como bem disse o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, promove uma brutal transferência de renda dos pobres para os ricos.

Tudo nas barbas de uma imprensa algumas vezes complacente com o discurso pseudoprogressista de quem é contra as reformas. É uma vergonha a incapacidade de reflexão de nossas elites.

Debate ausente

Enquanto a contrainformação corre solta, os aliados das reformas se manifestam aqui e ali. Não há, porém, uma adesão pública e ampla do empresariado, que padece com uma legislação trabalhista arcaica. Existe hoje um quase silêncio constrangedor por parte das confederações empresariais, que se consomem com um impacto pífio na realidade nacional.

Tampouco se divulgam os potenciais benefícios que as reformas podem trazer. Nem há soldados dispostos a dar a cara a tapa no debate. Apenas os relatores e alguns poucos “darcísios perondis” enfrentam de peito aberto o debate.

Vejo com preocupação certa acomodação nas esferas do Judiciário, enleadas com alguns privilégios que a alta magistratura federal não tem, mas que são comuns nos Estados. Portanto, com elites complacentes, o debate viaja ao sabor da coragem de uns e da contrainformação de outros. Assim, corremos o risco de que privilégios sejam mantidos e que, como sempre, a verdade seja completamente sacrificada nos debates.

Publicado n’O Tempo em 16/05/2017

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