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A eleição presidencial na França  

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O resultado do primeiro turno da eleição presidencial na França, com a ida de Emmanuel Macron e Marine Le Pen para o segundo turno, evidenciou o desgaste da política tradicional. Revezando-se no poder nos últimos 60 anos, os partidos Socialista e Republicano foram derrotados. Tanto Macron como Le Pen são representantes de fora do sistema político clássico. Macron rompeu com os socialistas em 2016 para criar seu movimento. Já Le Pen, representa a extrema-direita francesa, sendo uma candidata antissistema.

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O vencedor do primeiro turno foi Emmanuel Macron, do movimento “Em Marcha”. Macron é considerado uma novidade na vida política do país. Ex-banqueiro e ligado ao mercado financeiro, foi ministro da Economia do atual presidente François Hollande.

Até maio de 2016, Macron era filiado ao Partido Socialista (PS). Deixou a sigla para lançar seu movimento. Obteve sucesso na estratégia de afastar-se da esquerda, embora tenha o apoio de lideranças “mais a direita” do PS, e atraiu também votos da centro-direita.

O posicionamento ao centro de Macron pode ser sintetizado em sua proposta de governo. Ao mesmo tempo, favorável a União Europeia e ao livre comércio e defendendo uma harmonização social (salário mínimo, direitos trabalhistas, seguro-saúde) e fiscal para empresas.

Ao dizer não ser “nem de direita nem de esquerda”, Macron é visto no tabuleiro como social-liberal. Através desse posicionamento, conseguiu se distanciar de seu passado de homem de negócios do Banco Rotschild, assim como do governo Hollande e da esquerda francesa radical.

Assim, Macron se apresenta como um candidato conciliador, capaz de unir os moderados de esquerda e a direita defensora de liberdades e proteções sociais. Com isso, o candidato do movimento “Em Marcha” foi conquistando apoios de políticos de direita e esquerda.

Emmanuel Macron é o preferido da alta classe média de Paris. Possui a imagem de nunca ter se beneficiado do poder público. Com ele, não haverá rupturas, por isso é o preferido do sistema financeiro, do mercado e da União Europeia.

Le Pen, a adversária de Macron

A adversária de Macron no segundo turno será a candidata da Frente Nacional, legenda nacionalista de extrema-direita, Marine Le Pen. Buscando amenizar o extremismo de sua legenda (Jean-Marie Le Pen seu pai e fundador da sigla, é um conhecido anti-semita), fala em valorizar as mulheres.

O programa de Marine Le Pen contém propostas radicais como a drástica redução da imigração ilegal, a saída da França da União Europeia, e a instituição de uma moeda nacional no lugar do Euro. Defende ainda a proibição de todos os símbolos religiosos no espaço público e reafirma que o combate ao terrorismo, principalmente ao fundamentalismo islâmico, como tema central de sua campanha.

Marine Le Pen julga a Europa responsável por todos os problemas da economia francesa, sobretudo o desemprego, e promete realizar um plebiscito sobre a saída da França da União Europeia. O nacionalismo de Le Pen entende que a França deve deixar a UE para ser uma sociedade fechada e homogênea.

Marine Le Pen e a Frente Nacional tem sua base eleitoral concentrada no Sul da França, sobretudo no chamado Grande Leste, região que faz fronteira com a Bélgica, Luxemburgo e a Alemanha, sendo um dos locais mais pobres do país. Essa região foi fortemente afetada pelo fechamento de siderúrgicas, o que provocou o aumento do desemprego.

Desencantados com os partidos Socialista e Republicano, parte expressiva desse eleitorado migrou para a extrema-direita francesa em busca de mais proteção social. Essa fatia de eleitores está impaciente também com o terrorismo, sendo favorável a recuperação da soberania nacional e a defesa das fronteiras com maior firmeza.

Derrota da política tradicional

Sem dúvida, o grande perdedor do primeiro turno da eleição presidencial foi o Partido Socialista (PS). O candidato da sigla, Benoît Hamon, ex-ministro da Educação do governo Hollande, ficou em quinto lugar.

Além da impopularidade do atual presidente, a adesão dos setores mais a direita dos socialistas a campanha de Macron, e o surpreendente crescimento do candidato da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, do movimento “França Insubmissa”, também tirou votos de Hamon. Pesou contra ele ainda o fato de parcela importante do PS o ter “abandonado” na campanha.

Outro derrotado foi o representante do Partido Republicano, François Fillon, ex-primeiro-ministro do ex-presidente Nicolas Sarkosy (2007-2012), que ficou em terceiro lugar.

Fillon começou a campanha eleitoral como favorito, principalmente depois de ter superado Sarkosy, e o ex-primeiro-ministro e prefeito de Bordeaux, Alain Juppé. Porém, a denúncia de supostos empregos fantasmas de sua mulher, Penelope, e de seus filhos, Marie e Charles, levou o candidato republicano a ser indiciado pela Justiça e despencar nas pesquisas.

Quem se beneficiou com a desconstrução de François Fillon foi Emmanuel Macron, que atraiu o eleitorado conservador mais moderado que rejeita tanto o governo Hollande quanto o extremismo nacionalista da Frente Nacional de Le Pen.

Crescimento dos extremos

Embora não tenha chegado ao segundo turno, a grande surpresa do primeiro turno foi Jean-Luc Mélenchon. O ex-ministro da Educação do governo Lionel Jospin, da “França Insubmissa”, ficou em quarto lugar, obtendo quase a mesma votação de Fillon.

Mélenchon, um dos fundadores do Partido de Esquerda e apoiado pelo Partido Comunista francês, é o representante da extrema-esquerda. Assim como Le Pen, Mélenchon é um crítico da União Europeia e defendeu na campanha a realização do plebiscito sobre a saída da França da comunidade europeia.

Mostrou-se favorável ao fim da independência do Banco Central Europeu, o aumento do salário mínimo, um maior imposto de renda sobre quem ganha mais, e fortes investimentos no social. Disse também ser favorável a saída da França da OTAN, OMC e do FMI.

Bom orador, sua estratégia de campanha foi muito similar a do Podemos na Espanha. Apostou nas redes sociais, sobretudo o Youtube. Mélenchon é também um defensor do desenvolvimento sustentável, uma das bandeiras de importantes segmentos da esquerda em diversos países europeus.

A passagem de Emmanuel Macron e Marine Le Pen para o segundo turno, um candidato de centro e outro de extrema-direita, mostra mais uma vez que o eleitorado, desta vez na França, está aderindo a chamada onda conservadora.

O primeiro turno da eleição presidencial francesa também mostrou uma insatisfação da opinião pública com os partidos tradicionais (Socialista e Republicano), que ficaram de fora do segundo turno.

Outro recado das urnas foi o crescimento dos extremos. Le Pen e Mélenchon conquistaram, juntos, 41,05% dos votos válidos, o que mostra uma crescente insatisfação a forma como os governos tradicionais na Europa vem administrando temas como emprego, imigração, terrorismo e as questões econômicas.

O segundo turno entre Macron x Le Pen

O favorito do segundo turno marcado para o dia 07 de maio é Emmanuel Macron. Segundo pesquisas divulgadas antes do primeiro turno, Macron venceria Marine Le Pen por larga vantagem: 62% a 38%.

Apesar das tentativas da candidata da Frente Nacional em amenizar o extremismo da sigla, a postura radical ainda assusta parte importante da sociedade francesa.

Outro obstáculo para Le Pen é a formação de uma frente contra ela que começa a ser gestada. Logo após a confirmação do resultado do primeiro turno, os candidatos François Fillon e Benoît Hamon, dos partidos Republicano e Socialista, adversários históricos, anunciaram o apoio a Emmanuel Macron.

Neste segundo turno teremos também a discussão entre Globalização x Globalismo, tema muito atual no debate político dos países desenvolvidos.

Esse debate entrou na agenda por conta do avanço do populismo como reação ao chamado Globalismo (articulação de políticos e burocratas com objetivo de controlar as relações por meio de “intervenções”) sobre a Globalização (livre comércio e livre mercado).

As forças políticas extremas, à direita e a à esquerda, enxergam esse Globalismo como uma ameaça a soberania nacional. Le Pen na França, assim como os defensores do Brexit no Reino Unido e Donald Trump nos EUA, surfaram na insatisfação dos chamados “perdedores” do Globalismo ou da Globalização.

Mantido o cenário atual, Le Pen depende do surgimento de um fato novo com capacidade de produzir consequências de grandes proporções para reverter o favoritismo de Macron.

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