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Lula, o PT e o projeto de reconstruir uma imagem

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O debate interno sobre a sucessão do presidente nacional do PT, Rui Falcão, revela uma legenda bastante dividida e longe do consenso que marcou a sigla no auge do poder do petismo. Na verdade, o consenso sempre foi precário, já que o PT é uma coleção de esquerdismos que reúne tanto linhas ideologicamente consistentes quanto exercícios de altos delírios.

Em sua prática política, a federação de partidos que é o PT respeitava a diversidade, mas impunha um viés quase stalinista de atuação. Tratando-se de Brasil, enquanto o PT foi do “Lulinha paz e amor”, as coisas funcionaram bem. A dicotomia entre os pombos e os falcões era clara. Do lado manso, estavam Lula e Palocci; do lado duro, alinhavam-se José Dirceu e Dilma Rousseff.

Correntes do partido divididas

Embora a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que comanda o partido desde 1995, tenha cedido aos apelos de Lula e resolvido apoiar o nome da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a presidência do PT, tal decisão ocorreu somente após uma longa conversa do ex-presidente com os aliados internos. A CNB tinha dois outros candidatos para o posto: o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e o tesoureiro do PT, Márcio Macedo. Gleisi, não sei bem por quê, foi escolhida.

Além da divisão na CNB, as correntes de oposição ao comando nacional do PT (Mensagem ao Partido, Democracia Socialista etc.), agrupadas em torno do movimento chamado “Muda PT”, seguem defendendo a candidatura do também senador Lindbergh Farias (PT-RJ) à presidência. Mais um equívoco, já que nenhum dos dois consegue expandir os limites da influência do partido para fora do arraial.

O PT só foi poder porque ampliou seus horizontes e cooptou apoio de não petistas. Tanto Gleisi quanto Lindbergh reforçam o caráter geocêntrico da agremiação. O partido só conseguiu ir mais longe quando Lula percebeu que apenas seus aliados de sempre não seriam suficientes para um projeto de poder.

Lula ainda une o PT

Tendo Lula como cabo eleitoral, Gleisi Hoffmann deve prevalecer na disputa contra Lindbergh. Apesar de o senador continuar no páreo, a tendência é que abra mão de sua pretensão em favor de Gleisi. Independentemente de quem seja o novo presidente do PT, os sinais são de que as mudanças no partido serão tímidas.

Além de a CNB continuar no comando, Gleisi é ré em processo no Supremo Tribunal Federal. Ela é suspeita de receber R$ 1 milhão do esquema de desvios na Petrobras. Sem falar que é mulher do ex-ministro Paulo Bernardo, preso pela operação Lava Jato. Lindbergh Farias também já foi citado em delações.

Ou seja, tanto Gleisi quanto Lindbergh são opções ruins se considerarmos a necessidade que o PT tem de reconstruir sua imagem. Outro ponto importante é que o partido continua refém de Lula. Não por acaso, parte do PT acabou cedendo, mesmo discordando da opção de seu líder em favor de Gleisi.

Temendo pela prisão de Lula, como afirmado por Dilma Rousseff em Harvard, nos Estados Unidos, o PT opta por uma estratégia de negação para manter unida a militância. Acredita que uma autocrítica possa acabar levando ao desmonte de sua estrutura.

Lula, mesmo politicamente ferido, tem em sua narrativa de perseguido político um fator de união no PT. Talvez fosse mais conveniente para a legenda e para seus projetos que ele assumisse, de vez, o papel de presidente do partido. Lula ainda é a única cola universal que consegue unir uma miríade de interesses inconsistentes.

Publicado n’O Tempo em 12/04/2017

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