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Operação carne fraca e a crise hídrica: o dia seguinte

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A “operação carne fraca”, desenvolvida pela Polícia Federal, desmontou um esquema de funcionários do Ministério da Agricultura que teriam recebido propina para liberar carne para a venda sem passar pela devida fiscalização. O impacto no mercado interno e externo pode ser comparado a um tsunami econômico. A desorganização no setor de produção de carne pode trazer insegurança alimentar não apenas para os nossos 206 milhões de habitantes. Bilhões de pessoas, em todo o mundo, dependem da carne brasileira como fonte de proteínas. A exportação de carnes pesam cada vez mais na balança comercial brasileira. Em 2016, frigoríficos instalados no Brasil exportaram US$ 12,6 bilhões em carnes e subprodutos. É o terceiro grupo mais importante na pauta de exportações brasileiras – atrás apenas de grãos e dos minérios.

O grande paradoxo é que no Brasil, que ocupa uma posição de destaque na produção de alimentos, a desnutrição energético-proteica alcance índices alarmantes. Segundo o IBGE ela acomete cerca de 11% das crianças brasileiras. A desnutrição infantil é uma síndrome multifatorial que tem como um de seus principais vilões a pobreza. A sua erradicação, que tem ocorrido parcialmente continua a ser uma das nossas prioridades. Não podemos deixar de nos indignar enquanto um único brasileiro esteja no nível da pobreza. É o resultado da sonegação dos Direitos Humanos no Brasil desde o seu descobrimento.

Consumo irresponsável e crise hídrica comprometem a produção

Por outro lado a corrida do país para ser uma potência alimentar merece uma reflexão já que possuímos cerca de 12% de água doce superficial do planeta. O cientista britânico John Anthony Allan introduziu o conceito “água virtual”, que calcula a quantidade de água utilizada na produção de bens de consumo. Quando exportamos carne, estamos exportando água. Para produzirmos um quilo de carne de ave são necessários consumir 3.900 litros de água. Para um quilo de carne suína, 6.000 litros e para um quilo de carne bovina, consumimos 15.400 litros de água. Outros produtos agrícolas como a soja consome 1.800 litros de água para produzir um quilo de grãos.

O uso irresponsável da água aliada à ocupação irresponsável da terra causando o desaparecimento de nascentes e a má gestão dos recursos hídricos, nos leva a uma grave crise hídrica como a que ocorre em São Paulo e em Brasília. As chuvas abaixo da média não podem ser consideradas como vilão único da crise hídrica. A proteção das florestas nativas nas regiões de mananciais, nas margens dos rios e reservatórios é essencial para termos água. Sem cobertura florestal, a água não consegue penetrar corretamente nos lençóis freáticos, causando diminuição na quantidade de água disponível. Não podemos descuidar de nosso privilegiado patrimônio natural. É necessário que aprendamos com a natureza a busca pelo equilíbrio.

Investimento em Educação

Nesse contexto é importante que pensemos em transformar a nossa matriz econômica de grande produtor e exportador de commodities, que momentaneamente traz divisas e desenvolvimento. Olhando para o futuro é fundamental o investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação para que o Brasil possa ser um protagonista importante na economia do século 21 onde o conhecimento é o principal capital. O avanço da industrialização tem que se apoiar fundamentalmente no desenvolvimento científico e tecnológico aplicado ao processo produtivo. A operação carne fraca e a crise hídrica serão superadas se construirmos um sistema de educação e de ciência, tecnologia e inovação robusto e que seja um instrumento de transformação social demandada há muito pelo povo brasileiro.

Em 2018, o 8º Fórum Mundial da Água será realizado em Brasília, de 18 a 23 de Março.

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