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Henrique Meirelles: a força do governo que agrada até a oposição

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Era quase uma da madrugada. Entre risadas, papo sobre futebol e afagos entre parlamentares ideologicamente antagônicos, na mesa ao lado ainda havia interesse sobre política. No jantar do restaurante Piantella, em Brasília, em homenagem ao jornalista Ricardo Noblat, havia fartura de personagens. Governo e oposição conversavam animadamente e dividiam os pratos de pasteizinhos.

Eu dividia uma mesa com um deputado da oposição e outro governista. Defensores ferrenhos de suas posições, naquele momento, comentavam o possível desempenho dos clubes brasileiros na Copa Libertadores.

Depois de me inteirar da visão deles sobre o meu Botafogo, mudei as marchas, dei um cavalo de pau e perguntei diretamente: quem é a força do governo hoje? Sem pestanejar ou se olhar, responderam quase em coro: Meirelles.

O ministro da Fazenda começou sua trajetória no governo Temer com moral alta. Havia, talvez, expectativas exageradas sobre sua receita econômica naqueles meses de julho e agosto de 2016. Afinal, a caixa de Pandora que exporia os horrores legados pelo ex-ministro Guido Mantega e pela ex-presidente Dilma Rousseff (na prática a sua própria ministra da Fazenda) ainda não havia sido aberta.

Meirelles montou uma equipe, considerada por um importante economista-chefe de um banco em São Paulo como “estelar!” “Pena que não fui chamado”, suspirou. Nomes como Mansueto Almeida e Eduardo Guardia foram unanimidade para a missão de reconstruir a economia.

No entanto, com o passar dos meses, a empolgação da imprensa e de segmentos da sociedade com o Ministério da Fazenda foi diminuindo. Parte por causa da profundidade do problema, que era bem maior do que o esperado, adiando assim o processo de recuperação; parte pela baixa capacidade do governo de se comunicar e explicar exatamente o que fora encontrado na caixa preta de cada Ministério.

Segundo o deputado da oposição, Dilma nunca teria sofrido impeachment com Meirelles no Ministério. E adiantou: Lula tentou muito convencê-la a nomeá-lo. O parlamentar governista retrucou: “Poderia ter colocado o Papa Francisco que quem iria preparar os salmos seria ela”.

Meirelles, antes criticado por não saber fazer política, vem obtendo importantes vitórias justamente pelo fato de não fazer política. O presidente Michel Temer tem a tranquilidade de, em seu Ministério mais importante, não haver necessidade de se fazer política, e sim de pôr a máquina para andar.

A elaboração da Reforma da Previdência foi obra de sua equipe, em um bunker que sobreviveu a todas as granadas e explosões da Lava-Jato. Isso, por si só, já é uma vantagem enorme.

Dificilmente Meirelles conseguirá ser o que almejou no início do governo: candidato à sucessão de Temer na Presidência. Em um país mal informado e com uma imprensa que foca na tragédia, não há tempo suficiente para que melhoras econômicas se tornem unanimidade – e para que Meirelles seja reconhecido como seu formulador. A impopular e necessária Reforma da Previdência tem nele um de seus criadores, e certamente, no país do cheque especial, ser criador desta reforma não cai bem com o eleitorado.

Para governo e oposição, Meirelles triunfou de maneiras distintas. Para o governo, seus feitos e vitórias foram estabilizar a crise econômica, avançar com as reformas, estancar a recessão e retomar o crescimento. Já para a oposição, suas vitórias e vantagens são mais conceituais: nome forte, com credibilidade com o mercado financeiro, distante de polêmicas – e, ao que tudo indica, sem vínculo algum com a Lava-Jato –, aberto ao diálogo, inclusive com a oposição mais dura.

A conversa rapidamente mudou de foco. Na despedida, os dois parlamentares que se sentam em bancadas opostas durante o dia, se abraçaram calorosamente. “Quem se odeia na Câmara é novato ou maluco. Todo mundo precisa se dar bem com todo mundo. Jogamos em campos opostos, mas sempre que possível é bom tomar algo e bater um papo sobre outros temas além de política. Boa sorte para o Botafogo!”, disse o da oposição, recebendo apoio do governista: “Este ano acho que vai dar pra vocês.”

Publicado na GQ Brasil em 14/03/2017

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