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Silenciosas ausências

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Não há dúvida de que a operação Lava-Jato tem um efeito transformador extraordinário. Suas investigações destroem certas práticas do capitalismo tupiniquim e do sistema político nacional. Assim, nem a política, com suas formas peculiares de financiamento, nem as relações entre governo, estatais e fornecedores serão as mesmas após a Operação. Em outro texto, cheguei a comparar os efeitos dessa operação ao impacto da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil em 1888.

No entanto, um mistério intriga o observador detalhista dos meandros da Lava-Jato. Por que, até agora, o Poder Judiciário foi poupado das investigações? Por que nenhum vazamento atingiu em cheio os membros do Judiciário? Por que as operações promovidas por algumas das empresas envolvidas com a Justiça não foram abordadas? Por que as questões das empresas envolvidas com o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não estão sendo objeto de delação nem de investigação? É um mistério.

Dizem que o empresário Marcelo Odebrecht teria mencionado em sua delação que a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ visaria libertá-lo. Ficou o dito pelo não dito? Nada aconteceu, além dos desmentidos de praxe. O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, cuja delação está estranhamente suspensa, teria citado membro da Suprema Corte. Nada aconteceu. Os supostos diálogos entre Rodrigo Janot e Eugênio Aragão sobre a operação também merecem atenção.

Ora, se a Justiça deseja buscar a justiça no que tange à operação Lava-Jato, ela deve, com a mesma intensidade com que busca devassar o sistema político brasileiro, sair atrás dos malfeitos que atingiram também o Judiciário. Não faltam suspeitas nem indícios. Com um pouco de empenho, eles se transformarão em provas. E o que era nebuloso ficará claro.

Enfim, a força-tarefa de Curitiba está devendo. E qualquer sujeito mais ou menos informado sobre as entranhas do poder sabe que os tentáculos do capitalismo tupiniquim alcançaram todos os Poderes e a imprensa. Assim, o efeito transformador da operação Lava-Jato deve, também, atingir o Judiciário.

Como a operação Lava-Jato não cansa de surpreender, devemos dar crédito. Provavelmente, a sobrecarga de trabalho impediu até agora as devidas e necessárias investigações sobre as relações entre o Poder Judiciário e o capitalismo tupiniquim. No entanto, o tema não deve ser esquecido nem encoberto pelo tenebroso véu do corporativismo.

Publicado na Isto É em 20/01/2017

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