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O Brasil não vive uma boa fase

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O Brasil não vive uma boa fase. As pessoas se agridem por causas pequenas, os ódios políticos prosperam, os parlamentares cometem barbaridades na calada da noite e os procuradores exageram e constrangem publicamente o Congresso. O Judiciário esperneia.

Ninguém se entende porque as investigações relativas à operação Lava-jato entraram na reta final. Os métodos já são conhecidos, as vítimas percebidas, falta, apenas, confirmar a hierarquia da quadrilha criminosa. É preciso acusar os chefes, os grandes operadores e as vítimas.

Parece pouco, mas não é. O castelo de argumentos construído pelo Partido dos Trabalhadores desmontou. Não restou muita coisa. Os conceitos são inservíveis. Não adiantam para nada. Resta a possibilidade de recorrer a manifestações violentas na tentativa de produzir um cadáver em Brasília.

O vandalismo é o último recurso para constranger o governo federal. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, já orientou a polícia para não permitir que nenhuma manifestação chegue ao ponto de produzir uma vítima ensanguentada.

O presidente Michel Temer paga o elevado preço de montar uma administração baseada em amigos e na turma do antigo PMDB. Um governo de ideias passadas que ainda não compreendeu bem sua função no Brasil. Não anunciou metas, nem objetivos.

Não há agenda positiva. Só a perseguição de medida no sentido do ajuste fiscal, necessário, mas não suficiente para resistir ao bombardeio da oposição e ao anseio dos brasileiros. O pessoal quer emprego e crescimento econômico. Renda, salário e futuro. Temer precisa criar esperança e expectativas. Sem elas, ninguém dá o primeiro passo.

A Câmara dos Deputados cumpre seu papel de crescente desimportância na política nacional. Ali não brotam ideias. Não corre nada aproveitável. Surgem apenas atalhos para proteger mandatos, fortunas criadas ao arrepio da lei, evitar a criminalização do caixa dois e suas consequências.

Desta vez, os deputados foram longe. Mostraram sua verdadeira face. Destruíram o projeto que tentava reduzir a roubalheira no Brasil. Ao contrário, fizeram sua opção preferencial pela corrupção. Assumiram de público que estão lá, prioritariamente, para se servir dos recursos públicos nacionais. O país, portanto, é deles. Isso é nome da democracia.

Os procuradores, jovens, caíram na armadilha. Não tiveram a calma suficiente, nem o fígado necessário, para digerir o sapo e dar o contragolpe no momento oportuno. Reagiram ameaçando deixar a operação Lava-jato. Na Itália, a operação “mãos limpas” terminou quando os parlamentares começaram a produzir legislação contra as investigações.

Avançou o quanto pode, mas produziu ao final um Berlusconi, controvertido para dizer o mínimo. Aqui pode acontecer algo semelhante. Os procuradores, que não são políticos, também precisam se cercar de cautelas. Se forem para o debate aberto podem ser engolidos pelos espertíssimos políticos brasileiros.

Publicado no Correio Braziliense em 03/12/2016

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