Apesar da aprovação do pacote de medidas de combate à corrupção na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, o sistema político continua fazendo movimentos que indicam uma tentativa de blindagem contra o Judiciário, que, a partir do avanço da Operação Lava-Jato, conquistou grande protagonismo.
Entre esses movimentos está a tentativa de anistiar a prática de caixa 2 nas campanhas eleitorais, o que poderia livrar muitos políticos da Lava-Jato. No mundo político, o grande temor é a delação premiada da Odebrecht, que, segundo informações dos bastidores de Brasília, envolveria mais de cem políticos.
Vale lembrar que dentro dessa reação também está inserida a lei de abuso de autoridade, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Aliás, Renan tem sido um importante ator no enfrentamento do sistema político com o Poder Judiciário.
A proposta que busca anistiar o caixa 2 foi criticada na semana passada pelo juiz Sérgio Moro. Para Moro, essas práticas enfraquecem, não apenas as investigações e os processos julgados no âmbito da Operação Lava-Jato, como também a integridade e a credibilidade do Estado de direito e da democracia brasileira.
Diante da repercussão negativa da anistia do caixa 2 somada a queda de Geddel Vieira Lima da Secretaria-Geral de Governo, Temer foi muito habilidoso politicamente ao costurar juntamente com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros, um acordo para barrar tal iniciativa.
A decisão tomada por Michel Temer traz um paradoxo. De um lado, o presidente da República aumentará seu prestígio com as ruas, porém poderá ter problemas com sua sólida base aliada caso os parlamentares rejeitem a iniciativa tomada pelo Palácio do Planalto.
Em que pese tal paradoxo, Temer, Maia e Renan tomaram uma medida acertada, pois há mobilizações do Movimento Brasil Livre (MBL) e do movimento Vem Pra Rua – importantes atores sociais no processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff – em favor de protestos contra a proposta que pretende anistiar o caixa 2.
Assim, mesmo que o Planalto perca alguns pontos junto ao Congresso, Temer deu uma importante sinalização à opinião pública. Como consequência, pode ter esvaziado as mobilizações contra a anistia do caixa 2 programadas para o dia 4 de dezembro.