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Manifesto do Partido Otimista

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Ettore Scola, advogado e cineasta italiano, não viveu para filmar o magistrado brasileiro Ricardo Lewandowski, que suavizou, seguro que só tem o céu acima de sua cabeça, a pena da presidente. Mas “Nós que nos amávamos tanto”, seu filme de mais de 40 anos atrás, deveria ser visto por ele, Dilma, Renan e Lula, juntos, para observarem por que a esperança saiu do catálogo das virtudes.

Não aceitar ser julgada, bom Deus, vamos condenar a democracia brasileira à desordem. O político não é lotado no Estado, como o tijolo na parede! A verdade enfrenta um tráfego pesado no mundo. Sou a versão para gringos, o gigante que se debruça sobre ela. Ótimo, a história inicial se perdeu, não vale a pena procurar o seu começo. Encontrei muitas pessoas dispostas a me amarem, mas nada de promiscuidade, meritíssimo. Mantenho meu passado! São sujos! Ora, moça, se aceitou assentar ali bem comportada, enterrou sua ilusão retrospectiva. Acione seus punhos de ferro, mas pense, sua vergonha não passa de orgulho.

Todo julgamento, para conter alguma possibilidade de sucesso para o acusado, deve carregar uma dúvida razoável e necessária, que paralise a consciência de quem julga. Ela sempre teve seu próprio método. Nunca quis aliados, mas devedores de obrigação. Sentia seus desejos como exigência. E, assim, não reconhecia a ninguém o direito de entendê-la. Czarina do czar que a escolheu, caminhava negligente se fazendo dura.

Para dar credibilidade à sua história, multiplicou por dez seus inimigos. Povoava seus dias contando traições. Ampliava sua angústia, mas as coisas não ficavam nisso. E aquele quase nada para a razão do outro era reforçado por interlocutores que a faziam escapar mais ainda da realidade. Eles temiam complicações com aquele nenhum talento para a reciprocidade. Sua bossa é botar culpa nos outros. Ela se fatigava e seus amigos a mimavam, dizendo que caminhava para a perfeição.

Tempestade sem relâmpago confundiu seu desencanto com virtude, sua incapacidade com a verdade. Embora vivendo no rebanho comum da política desde sempre, só não era joão-ninguém quem a tolerava. E foi assim, só reconhecendo legitimidade em quem a inocentasse, que entrou naquela sala azul de quase 200 anos.

Ao nomear a realidade de escândalo, a política traz o escândalo para a realidade. E fica dispensada de se convencer que desvios políticos costumam ser sempre obra de panelinhas. Grupos que conquistaram posição estrutural e material acima das condições da sociedade e se alienaram em relação a ela. Suas ideias perdem a maturidade para representar o interesse e a consciência da maioria. E o ciclo histórico de onde vieram se esgota, com seus principais personagens ainda vivos.

Não há necessidade mais de crítica. O argumento tornou-se parasita do problema velho. São anomalias, que serão melhor retratadas pela literatura e o cinema. O que precisamos, agora, é de um movimento abolicionista de práticas antigas.

Não é que ela venha de fora, da conversa, das leituras, da experiência. A liberdade que sustenta a coerência e o respeito à opinião dos outros vem de dentro da pessoa que já tenha dentro dela o gosto pela liberdade.

O texto de Paulo Delgado foi publicado originalmente no O Globo.

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