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Jornalistas adoram achar defeito em eventos bem-sucedidos

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Olimpíada é como desfile de escola de samba. Ninguém acredita que aquelas cinco mil pessoas, empurrando uma dezena de carros alegóricos, vão sincronizar seus movimentos e vozes por quase duas horas. Tudo isso ao som de uma bateria que, além do mais, dá uma paradinha, espécie de salto triplo rítmico sem rede. Mas eles conseguem. Todos anos. Só vendo ao vivo para entender e acreditar.

No caso dos jogos é parecido. Faltando meia hora para começar o espetáculo – e às vezes dias depois de começado – os organizadores e funcionários ainda estão dando os últimos retoques, permitam o chavão. Em 1996, eu vi isso acontecer em Atlanta ao fazer a cobertura para o Correio Braziliense.

No primeiro dia o sistema de transporte dentro da Vila Olímpica foi um verdadeiro pastelão. Os ônibus levavam um time de basquete para um ginásio onde ocorreria uma competição de judô, enquanto outro carregava uma equipe de futebol até uma piscina onde se esperava assistir nadadores em disputa. Parecia que, durante a noite, personagens de uma lenda haviam trocado todas as instalações só para ver o mundo pegar fogo.

Atletas e jornalistas, como eu, fizeram trajetos a pé, reclamando sem parar. Tudo isso aconteceu nos Estados Unidos, país de perfeccionistas, escravos do planejamento, que testam tudo antes e se gabam de não cometer erros. Imaginem no Rio de Janeiro, capital da terra do improviso, habitada pelo povo que deixa tudo para a última hora!

No segundo dia da Olimpíada, quando se imaginava que Atlanta entraria nos eixos, outra rodada de absurdos. Dessa vez foi o sistema de comunicação que entrou em pane e não entregava o serviço de dar informações corretas sobre jogos, em suas respectivas modalidades, com o placar correto. Só no terceiro dia o esquema começou a entrar nos eixos.

Assim mesmo dentro da Vila Olímpica, porque do lado de fora, veio uma onda de caos, com as ruas atravancadas por gente que, vendo que elas estavam vazias porque o transporte público funcionava bem, resolveram usar o carro. Quando, finalmente, a confusão foi contornada, surgiu o “imponderável de souza”, primo do “sobrenatural de almeida”, de Nelson Rodrigues. Uma bomba caseira, feita de pregos e parafusos, explodiu em pleno Parque Centenário, praça dos shows e stands de comes, bebes e lazer, onde milhares de turistas se aglomeravam todas as noites. Um ato de terror doméstico, comum na época. Duas pessoas morreram e uma centena ficou ferida.

Depois de algumas horas de bloqueio da imensa área onde aconteciam os jogos, o show continuou sob segurança redobrada, e a Olimpíada foi um grande sucesso. Parte da receita para tanto foi dada pelo diretor de operações, o empresário A. D. Frazier, que esteve no Rio no final de 2013 para dar aula de eventologia esportiva.

Segundo ensinou Fazier: “Muita atenção com a imprensa escrita. Não se importe com as TVs, porque elas têm muito dinheiro de seus patrocinadores e estão mais preocupadas em mostrar o melhor do evento”. Profético. “Em compensação, os jornalistas de jornais e revistas não têm patrocinadores, eles têm liberdade para escrever e criticar o que não considerarem bom”, afirmou A. D. Frazier. “Em Atlanta, os jornalistas não gostaram das salas de imprensa, criticaram o tempo e o sistema de distribuição de notícias”, lembrou. “E começaram a dizer mundo afora que não estávamos preparados para os jogos”.

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