Avianca, quinta-feira, início da noite, Brasília para Santos Dumont. TAM, segunda-feira, fim da manhã, Confins para Brasília.
Hoje, é possível encontrar, povoado de pessoas culpadas ou importantes, todos os lugares que se frequenta. Maus por profissão, ou designadas como relevantes, o Estado cria, meticulosamente, caminhos próprios para se justificar: a sanção legal, alta para alguns, especialmente os jovens e os pobres, e a personalidade e seu título, com possibilidade de se expor sem embaraço.
A forma de apropriação do privilégio, quando irrefletida, costuma ser posta na conta do mérito individual. Mas a habilitação de uma autoridade pública como ser humano incomum, salvo raríssimas exceções, é uma falsa legitimação da superioridade moral. E permite uma dúvida: como requerer para o corpo proteção sem parecer supor ter a alma distinta dos demais?
Olhe os dois cenários, as coisas parecem ocas, a apreensão irrelevante. Sua preocupação são ausências, o Brasil, como a Índia, é um forjar de proscritos!!! O poderoso desempenha seu papel, a sociedade os venera. Não é a estrutura institucional, são disposições interiores, condutas fixadas pela infância. Hoje herói; amanhã, maldito. O Brasil é unívoco.
E aquela apropriação do bem escasso, a fúria da opinião, a injusta generalização que acompanha o humor diante do comportamento das autoridades, se dirige em direção ao nada. A vaidade por costume apenas assombra a comunidade das pessoas comuns. A modéstia por natureza, como faz o que qualquer um faria em seu lugar, tornar-se inessencial. E como são valores que vêm de cada um, nada é salvo pela máquina dos costumes do Estado. O erro torna-se nada. E se o mal não é nada, há mais magnetismo ser atraído pelo mal.
Em dois dias diferentes, dois ministros do Supremo se movimentaram em dois dos mais movimentados aeroportos brasileiros. Um embarcou com seguranças, um ritual de sociedades arcaicas, o porte de quem carrega um segredo. Desceu no Rio, por uma escada lateral, seu carro estacionado na pista, debaixo do avião, um risco para a segurança de todos. O “resto”, os contribuintes, seguiu pela porta dos costumes. Poucos dias antes, em Belo Horizonte, sua colega chegou sozinha para embarcar, carregava sua pasta, ocupou a poltrona do meio, desceu em Brasília sem que ninguém a esperasse, e seguiu para sua vida profissional, como pregam os costumes.
Não é severa a sentença: se um jovem decidir ser juiz, quem lhe parecerá um estranho completo?