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Mazelas nacionais

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A rotina policial da politica brasileira não assusta mais. O que se dizia a meia voz, agora é gritado a plenos pulmões.  Não se faz eleição sem a forte presença de empresas estatais e grandes empreiteiras. O fenômeno não é novo. É antigo e tradicional. A novidade está em que o Partido dos Trabalhadores organizou a distribuição de propina e o PMDB, que já conhecia os caminhos, aproveitou a porta aberta para também se locupletar.

Ninguém nunca levantou a mais mínima dúvida sobre a honradez e a seriedade de líderes como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Eles dois com discursos, conversas, diálogos sussurrados e encontros não revelados mudaram os destinos da República. Os políticos atuais cheio de pose, discurso fácil e promessas vazias não chegaram um patamar razoável de respeitabilidade. Mergulharam o país neste oceano de desrespeito, falta de compostura e no vexame internacional.

Não adianta agredir a verdade. A realidade é esta que está diante dos nossos narizes. O ex-senador Sergio Machado, do Ceará, afirma ter pago propina a 23 políticos no total de R$ 109 milhões de reais, originários de sobrepreço praticado por 16 empresas. Ele mistura, propositadamente, os momentos. Retorna a 1998 e chega até sua demissão da Transpetro, a subsidiária de Petrobras, onde dinheiro brotava no bolso dos interessados como um passe de mágica. Os beneficiários são conhecidos. Expoentes da política brasileira.

É o retrato. Não há santos na política. Entrar no círculo fechado dos interesses nacionais significa transacionar com pesados grupos de pressão que não admitem a negativa como resposta. Compram tudo o que há pela frente, inclusive medidas provisórias. Instrumentos essencialmente congressuais como a comissão parlamentar de inquérito, passaram a se constituir ótimo negócio. É por essa razão que agências de segurança e informação norte-americanas investigaram, em sigilo, a Petrobras, a presidente Dilma e os principais funcionários do governo brasileiro. O dinheiro era muito. Excessivo.

Corrupção não é mal brasileiro. Existe em todo o mundo, em maior ou menor escala. Ganhou grandes proporções nos anos imediatamente posteriores ao fim da União Soviética. A rápida conversão do gigante comunista aos padrões capitalistas ocorreu por intermédio de muita propina. Surgiram fortunas de um dia para o outro. Nas indústrias de armas e de petróleo houve uma farra, que continua a prevalecer até os dias de hoje.

Europeus não estão distantes do ocorrido. O Brasil é um país rico. Os dirigentes de grandes empresas do velho continente ganharam muito dinheiro, ilegal, aqui nos últimos anos. A política nivela todos por baixo. Reforma eleitoral é assunto antigo e desgastado, mas essencial neste momento. O presidente em exercício, Michel Temer, afirma que não disputará a reeleição porque terá que fazer pesados ajustes na economia nacional. Vai enfrentar níveis baixos de popularidade.

É o momento de olhar para o cenário político, devastado por delações, prisões, tornozeleiras eletrônicas e outros pesadelos. A liderança do Partido dos Trabalhadores está presa, cumprindo sentença ou ameaçada de ir para a cadeia. Os principais nomes do PMDB estão assustados pela incrível pressão da procuradoria geral da República. E da seriedade do Ministro Teori Zavaski, com seu perfil de esfinge. O mês de julho será dramático no Brasil. As instituições estão em situação precária. Qualquer mal entendido terá o poder de fazer a casa cair e o país marchar para a realização de eleições presidenciais.

O governo provisório precisa concluir o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. Ela esperneia o que pode. Protela. Adia. Os senadores na comissão do impeachment aproveitam a incrível oportunidade para fazer seu espetáculo particular. Estão de olho na reeleição deles mesmos. Dispor deste espaço na televisão em rede nacional é um presente inesperado. Alguns senadores desceram do muro. Reguffe, por exemplo, afirma que votará a favor do impeachment. Ele está convencido de que a presidente cometeu o crime de responsabilidade.

Só depois de vencer o capítulo do impeachment, o governo Temer poderá pensar em governar. E, neste caso, ele terá que, além da questão econômica, colocar em pauta a delicada e complexa reforma política nacional. Afinal, o sistema eleitoral brasileiro, combinado com o presidencialismo de coalizão, é o responsável por essa lamentável exibição das mazelas nacionais.

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