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O chauvinismo agressivo da política brasileira

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Chauvinismo; substantivo masculino:

1- Menosprezo pelo que é estranho;
2- Entusiasmo inflexível pelo conhecido.

Todo respeito ao amor, mas vamos mais longe sem ele, disse um abatido e atormentado Thomas Mann ao sair do funeral da irmã que enforcou sua vida antes da hora. Sentiu que “aquele raio que caiu de forma súbita tão desesperadamente perto de mim, era a tempestade de profunda melancolia e desamparo que chegava à sua família. Especialmente porque era muito claro o sinal desencorajador da vida cultural, política e econômica da época.

A degeneração cultural, aliada à deformada iconoclastia ideológica, destrói, aos poucos, quem demonstre traços de independência na forma de pensar e agir. E a aventura secreta e silenciosa, que leva pessoas de bem a se oporem, faz da convivência humana uma tormentosa reunião de bárbaros.

Quando Lula e Dilma decidiram, secreta e improvisadamente, unir suas proezas e a visão particular que têm da história do Brasil, o vento democrático se voltou com raiva sobre o país. E diferente do que ocorre normalmente, a paralisia de vontade que se seguiu a esse brincar de fazer de conta com princípios, tendo uma argola de ouro presa aos pés, pode não significar nada para o Brasil do século XXI. Desde que, os dois, contemporâneos do passado, não possam tomar o tempo de todos com o velho jogo do culto à personalidade que sangra países inviáveis.

Um governo bom é aquele em que faz sentido ser bom. Como tiveram chance e força para abominar o erro, e não o fizeram, foram eles que reinventaram esta gestão do Estado. Hoje, aquela casa de papel, construída sob alicerce cuja fundação não pode ser investigada por um juiz de instrução, ameaça desabar sobre a cabeça do país. Governos de segredo e excesso. Colocaram o mar acima do nível dos rios. Estimularam a sociedade a ser figurante no teatro egocêntrico que encenam. E por não aceitarem a ideia de que aquele que ama mais é o perdedor não se importam com quem os abandona, nem pedem desculpa, o pudor da razão diante da dúvida ou da ofensa.

Assim, a política brasileira envelheceu mais um pouco e, ainda, aceita falar em vitória a qualquer preço. A politização de tudo se fez excessiva para que o Estado usasse a democracia para predominar sobre o cidadão. Uma obsessão desesperada que sufoca a sociedade e mata o futuro. De forma dura e cruel, o sistema político selecionou soldados para o script de uma guerra que em nada interessa ao povo.

Como se obedecesse a um comando, com argumentos baseados em comparações aleatórias ou recapitulações, de forma frenética e aos gritos, é patético ver o sofrimento que causa o papel de fanático para quem o desempenha. As instituições brasileiras, inúmeras autoridades e os cidadãos partidarizados, encontraram a forma emocional de retardar, pelo berro, o elitismo sob o qual estão erigidos.

A política não foi feita para substituir a falta de felicidade. A ruina da linguagem pública confirma que nenhum governante adquire, com o poder, o que não tem dentro de si. Passeatas e aglomerações obrigatórias, comícios fora de hora, teses estapafúrdias, declarações bizarras, humor a favor, estão se tornando surtos doentios que acometem as pessoas onde falta a esperança.

Mas a vociferação competitiva não quer dizer que é o caráter dos que berram que importa. O que se manifesta de fato é o caráter de uma época.

Onde a situação descontrolada, incompetente e sem comando, que vem como palavrório e grosseria, revela a indolência da autoridade diante da verdade.

O Brasil vive uma emergência sem impulso para a solução racional do seu problema. A falta de compostura diante da história tenta esconder, com falsas analogias, o caráter único da situação. Assim não é fácil a trajetória do impeachment; mas é muito pior o que anda na cabeça dos seus críticos.
Uma característica especial acentua a limitação de Lula e Dilma diante da crise atual: sua mágoa retrospectiva com a sociedade e a política contaminou seu senso histórico e democrático. Atenção presidentes: um país não é apenas o que ele faz – mas também o que ele admite e tolera.

O berro e o urro não põem tudo a perder. Mas podem impedir de ver as coisas como estão. Ninguém é tão maior assim no Brasil atual. Além do que, o grito, não impõe nenhuma obrigação maior a quem o escuta. Aplicar a Lei é o tributo amigável à vida civilizada à qual o Brasil precisa se vincular.

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