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Perto do fim

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A delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS) lancetou um tumor que estava à vista de todos no país. A vasta rede de corrupção que se instalou no poder alcançou números fantásticos e envolveu em vários níveis a administração federal. A Petrobras foi saqueada de maneira sistemática e orientada para enriquecer alguns e patrocinar campanhas eleitorais por intermédio de propinas que se transformavam em doações legais. Era o que se sabia. Ou percebia. Ele apontou o dedo, deu os nomes e detalhou a maneira de agir. Abriu a boca.

A casa, aparentemente caiu. Não existem palavras, adjetivos ou argumentos na língua portuguesa para justificar tais atos. Trata-se simplesmente de organização criminosa, no dizer, impoluto e objetivo, do ministro Celso de Mello. A mesma prática ocorreu na Eletrobrás, na Eletronuclear, em diversas obras contratadas pelo governo. Ao lado disso, executivos, por assim dizer, do Partido dos Trabalhadores assumiram cargos-chave na administração federal de maneira a melhorar seu perfil financeiro e facilitar a ascensão de companheiros. A república trabalhista mostrou sua verdadeira face.

O discurso demagógico serviu como cortina de fumaça capaz de desviar as atenções do que de fato ocorria no Brasil. Em nome de redução de desigualdades sociais, o governo esqueceu qualquer projeto de desenvolvimento. Decidiu premiar alguns segmentos que receberam vantagens e pagaram propinas por essa generosidade. O resultado se mostra em duas pontas: a economia agasalhou uma redução de 3,8% no produto interno bruto, o pior resultado em três décadas. E a política de transformou numa geleia geral. Poucos protagonistas no cenário político respondem por alguma ideologia. Preferem agir como consequência de estímulos financeiros.

O Supremo Tribunal Federal deu sua contribuição para elucidar o difícil momento nacional. Admitiu, em curto prazo, sem maiores considerações, e por unanimidade, que o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deve responder inquérito por desvio de verbas e lavagem de dinheiro. O carioca poderá continuar a exercer o cargo, mas sua margem de manobra é cada vez menor. Afinal de contas, ele assume a condição de réu em processo que tramita na mais alta corte do país. E não há, no caso, duplo grau de jurisdição. Não haverá recursos além do STF. O que for decidido ali, ali será analisado.

Consequências da delação de Delcídio

O acordo de delação premiada feita pelo senador Delcídio Amaral com a Procuradoria-Geral da República detalha como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam tentado interferir na condução das investigações da Lava-Jato. O ministro Teori Zavascki decidirá se homologa ou não a delação. O governo reagiu às declarações de Delcídio Amaral por meio do ex-ministro da Justiça e novo titular da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo. Segundo ele, a delação do ex-líder do governo no Senado seria uma retaliação. O ex-líder do governo no Senado afirmou que Dilma sabia das irregularidades envolvendo a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e de que Lula comprou o silêncio de Marcos Valério. O ex-presidente também teria “pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras” e agido pessoalmente para barrar as investigações.

Falar, tudo mundo fala. O ministro Cardozo tentou esgrimir argumentos e mais argumentos para se defender. Explicou demais, falou demais e não apresentou nenhum fato novo. O governo está muito perto do fim. Se já não chegou ao final. Bom advogado, enfileirou argumentos vencidos, datados, que não explicaram nada. Meteu-se também a explicar a operação da refinaria de Pasadena, no Texas. Esse assunto já foi examinado por diversos fóruns. Está claro que houve prejuízo bilionário, em dólares da Petrobras naquele episódio. Melhor calar que passar por esse constrangimento público.

A suposta vingança de Delcídio Amaral já produziu consequências. O mal está feito. A semana foi cheia de novidades. O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu abrir processo de cassação do presidente da Câmara por mentir aos seus colegas ao depor na CPI da Petrobras. Ele afirmou que não tinha contas no exterior. O que, segundo os investigadores judiciais, não é verdade. Cunha está mais perto da porta de saída. E Dilma Rousseff também. O governo federal de desmentido em desmentido está perigosamente perto do fim. Só lhe resta tentar desqualificar pessoalmente o acusador. Mas o impeachment está logo ali.

Manobra – A substituição do Ministro da Justiça com a clara intenção de segurar o ímpeto investigatório do Ministério Público e da Polícia Federal não atingiu os resultados pretendidos. Dois dias depois, aparece o vazamento da delação premiada do senador Delcídio Amaral. E, em seguida, a condução coercitiva do ex-presidente Lula. A crise política ganhou uma velocidade impressionante. Já possui lógica própria. Ninguém a controla.

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