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A caminho do fim, o confronto final?

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A decisão de radicalizar o discurso político em defesa do governo e de Lula foi comunicada aos ministros Jaques Wagner e Miguel Rossetto, que estiveram em São Paulo, na semana passada, com a direção da legenda. Viajaram em avião de carreira para não caracterizar uso de aeronave oficial para um compromisso partidário.

A radicalização veio acompanhada de decisões objetivas, como quando o PT se posicionou contra o projeto de lei que flexibiliza as regras do pré-sal. Em um discurso mofado e cheio de contradições frente ao momento do setor petroleiro e à situação crítica da Petrobras, o partido optou pelo discurso a favor dos interesses corporativos dos empregados e da empresa contra os interesses do país.

No fim de semana, na festa de 36 anos do PT, Lula disse que o “Lulinha paz e amor” acabou e que estava de “saco cheio de inimigos”. Além de acusar objetivamente as organizações Globo de manipuladoras do noticiário contra ele. E advertiu que poderia ser candidato em 2018.

Mesmo reconhecendo que Lula é um mestre da comunicação, esse discurso não alivia sua situação. Salvo negar que o triplex do Guarujá seja seu, apesar da montanha de evidências em contrário, não trouxe algo novo, capaz de enfrentar o constrangimento.

Pelo contrário, sua condição pode ter piorado, já que atacou frontalmente o Ministério Público no momento em que questiona as investigações a seu respeito no STF. Não é prudente criticar institucionalmente organismos do Judiciário em um clima tão conturbado.

Segundo pesquisa Datafolha, 62% dos entrevistados acreditam que Lula lucrou com as obras do triplex, e 58% avaliam que a construtora OAS, responsável pela reforma, obteve vantagens do governo. No caso do sítio em Atibaia, 58% acham que o ex-presidente saiu ganhando com as obras na propriedade, e 55% pensam que as construtoras responsáveis pela reforma ganharam prêmios da administração petista.

O que pode acontecer? A primeira consequência será a tentativa de Lula e do PT de enquadrar a política econômica do governo em seus discursos. Essa decisão será comunicada ao governo no encontro que Lula terá com Dilma Rousseff nesta semana, no qual ele também vai lhe entregar as propostas econômicas do partido. Não deve acontecer, apesar das tentativas – que vão ocorrer –, conciliação de posições.

A segunda consequência é o aumento da instabilidade nas relações entre Dilma e Lula, já agravada pela incapacidade de o governo controlar as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público contra o ex-presidente.

A terceira é a possibilidade de ocorrerem mobilizações estimuladas pelo PT e por seus setores mais aguerridos para atacar oposicionistas. Lula fez claramente um chamamento para o confronto. Até onde vai e com que intensidade?

O discurso de Lula no aniversário do PT é uma tentativa de restabelecer a unidade que ele mesmo criou de várias facções de esquerda em torno de seu projeto de poder. Projeto que a princípio deu certo, mas fracassou em seguida por seus erros e contradições, e agora ameaça não apenas o presente do governo Dilma, como também o futuro da esquerda como força eleitoral.

A radicalização do discurso de Lula era esperada e é indesejável para o momento de dificuldades do país. Lula toma o caminho errado ao apontar o confronto como saída, quando seu sucesso foi baseado na fórmula “Lulinha paz e amor”, que era a conciliação entre diferentes. Não vai dar certo e pode tumultuar, ainda mais, o país.

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