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Na beira do abismo

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Reunião sem pauta definida não costuma render bons resultados. Os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social ouviram discursos e intenções do governo, ponderações de empresários, mas pouco ou nada chegou perto do terreno das ações práticas. O Palácio do Planalto completou a sua inteligente ação de marketing, ocupou os espaços jornalísticos com sua agenda positiva que não renderá nenhuma novidade nos próximos tempos.

O ex-ministro Delfim Neto, que foi deputado federal em várias legislaturas, subitamente começou a falar. E a fazer frases. Uma delas é brilhante: “não há presidencialismo, sem presidente”. Ele entende que o impeachment saiu do radar das preocupações governamentais depois das decisões do Supremo Tribunal. A solução será, portanto, caminhar com Dilma Rousseff até o final de seu mandato. Mas ela precisa assumir o cargo. Escolher objetivos e desenhar estratégias para alcançá-las. Ao que parece alcançou seu projeto básico, permanecer no poder. Conseguiu. Vai pagar o preço, mas terá que governar.

Algumas coisas estão muito fora da curva. Por exemplo, o recente namoro com as lideranças do PDT, partido a que foi originalmente filiada. Ela visitou a sede da instituição, confraternizou com Carlos Lupi, seu presidente, e discursou comparando-se a Getúlio Vargas. As agruras daquele que se suicidou seriam parecidas com as que enfrenta agora. Consequência da ação dos golpistas. Os discursos da presidente são erráticos. Ela não costuma acertar quando fala de improviso. Mas a estranha comparação foi efetivamente feita. E o partido se prepara para lançar Ciro Gomes como candidato à presidência da República.

Ela namora o PDT no momento em que o PT pode dar a sustentação necessária e fundamental a seu governo. Sem esse apoio o processo de impeachment pode entrar novamente no radar do Planalto. As ações da presidente não têm direção certa. Ela, aparentemente, não mede consequências. A candidatura do cearense sem embaraços para criticar os adversários já está na mesa. O candidato do PT, que seria Lula, ainda não apareceu. O ex-presidente está cada vez mais enrolado com as investigações da lava-jato. Será candidato apesar de tudo?
A crise econômica transita pelo país com o maior desembaraço. Sobre isso, as palavras são escassas. O ministro da Fazenda Nelson Barbosa anunciou na reunião do Conselhão que o rombo nas contas nacionais no ano passado alcançou a casa dos R$ 114 bilhões. Essa é a consequência prática das pedaladas fiscais ocorridas nos três últimos anos do primeiro mandato. A desastrada operação de esconder o malfeito piorou o cenário. O governo teve que pagar de uma só vez, o que havia negligenciado antes. Piorou o resultado final.

Quem não tem rumo definido não costuma chegar a lugar nenhum. Essa é tragédia da atual administração. Sem projeto, sem plano, sem orientação. Ela diz hoje o que vai desmentir amanhã. A inclusão social, principal bandeira da administração petista, também rolou escadas abaixo. A inflação comeu os ganhos de população. E os mais pobres, que não dispõem de meios para se defender, recebem o maior impacto. A recessão atinge a todos. Os empregos desapareceram, empresas fecharam, o comércio abaixou suas portas. A atividade econômica se reduziu numa queda vertiginosa. Desastre de proporções abissais. Se algum mérito há nesta reunião do Conselhão é o reconhecimento, pelo governo, de que a situação é dramática. E as soluções não são simples, nem fáceis.

Neste continente subdesenvolvido chegou a ser engraçado o encontro Comunidade Econômica Latinoamericano e do Caribe, CELAC, realizada em Quito. Dilma esteve lá. As maiores economias da região preferem se integrar à Aliança do Pacífico, que inclui Estados Unidos, China, Coréia e Japão. Não estão muito preocupados com os desmandos dos populistas no continente. Todos, aliás, comandam economias falidas. Nicolas Maduro andou passeou por ali pedindo ajudando para seus problemas internos.

Esse é o cenário que envolve a presidente Dilma no momento em que ela descobriu a necessidade de dialogar com a sociedade. Sua atuação até agora foi ruinosa para o país e especialmente para o Partido dos Trabalhadores. Seus dirigentes estão caminhando no fio da navalha e ameaçados de extinção por intermédio das próximas eleições. A proposta nacionalista está esgotada porque o dinheiro acabou.

Após um ano e meio sem reuniões, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social se reuniu para encontrar alternativas para crise. O presidente do Bradesco disse que o país não pode se comportar como um automóvel no escuro com os faróis voltados para trás. O governo Dilma optou por brincar seu carnaval na beira do abismo.

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