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Falta um bom motivo para acreditar no ajuste

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Apesar de impressionante, a reação negativa à escolha do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é compreensível. A ausência da verdade na maioria dos eventos que implicam declarações da presidente Dilma e de ministros de seu governo, explica porque pouca gente acredita neles quando se trata de ajuste.

Praticamente tudo o que ela disse na campanha eleitoral do ano passado foi desmentido pela realidade desde o momento seguinte ao encerramento das urnas do segundo turno. Déficit fiscal, inflação, juros, tarifas públicas, desemprego, dólar e corrupção dispararam, ao contrário do que prometera a candidata.

Arrecadação, indústria, PIB e balança comercial encolheram, retrato da maior crise de engessamento da economia dos últimos 30 anos. Outro dado síntese da falência múltipla dos indicadores que contesta o diagnóstico otimista do governo, sistematicamente longe dos fatos. Na política, o Planalto também tromba com a verdade em quase todos os episódios. Diz que tudo vai bem, quando é sabido que a maioria do cenário vai de mal a pior na visão de integrantes do próprio governo.

Ainda assim, não há registro de entrevista em que a presidente tenha admitido um só erro, ainda que pequeno e sem importância. “O inferno é sempre os outros” para Dilma Rousseff. E não há indicação de como será feito o resgate, exceto a exortação ao novo ministro para trabalhe com o objetivo de fazer o ajuste simultaneamente à retomada do crescimento, fórmula jamais alcançada no receituário de qualquer escola econômica conhecida.

O único programa de estabilização bem sucedido já aplicado nos últimos 30 anos foi o Plano Real, que desindexou a economia, acabou com a inflação e abriu caminho para a retomada do crescimento. Na época, no entanto, não havia estagnação econômica. Ao contrário, o país atravessava uma das etapas de maior dinamismo da sua história. Bastou tirar o obstáculo da superinflação do caminho para estimular o crescimento que veio em seguida.

Hoje, além de tudo, há a dura personalidade e o desgaste político da presidente, que enfrenta um processo de impeachment responsável pela paralisia administrativa do país. O impeachment, aliás, é o responsável pelo abandono da preocupação com ajuste, que nunca passou de discurso para seduzir o mercado.

Sob o comando de Nelson Barbosa na Fazenda, imagina-se agora um novo figurino para o equilíbrio fiscal – as reformas da Previdência e do fim das vinculações do Orçamento da União. Dificilmente, porém, essas propostas terão êxito. O governo pode enviá-las ao Congresso, mas ali a base aliada não tem votos para aprová-las, pois é forte a reação a mudanças estruturais, inclusive dentro do governo.

Sem a discussão de programas durante a campanha, um governo com apoio no Congresso e uma equipe econômica criativa, passarão ainda alguns anos sem que os problemas sejam enfrentados. O problema é que o risco da perda de mais um ano agravará a situação do país. Já se prevê o agravamento da recessão em 2016, com nova queda do PIB próxima de 3%.

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