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Os diários de FHC: o meio é a mensagem

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Lição para vítimas de charlatães da comunicação: se não tivesse, por oito anos, gravado diariamente suas impressões de presidente da República, FHC não teria produzido o espantoso e inigualável documento que o consagra como um “intelectual no poder”.

Noutras palavras, o livro “Diários da Presidência”, que deixa todo mundo com água na boca, é um exemplo superlativo de que o marketing político – ao contrário das táticas e estratégias de vendas de produtos e serviços, que se esgotam “enquanto durar o estoque” – é uma aposta com a História.

O fato de FHC, aos 85 anos, 17 anos depois de haver deixado a Presidência da República, ter sua experiência no governo – com fatos, ideias, pessoas, queixas e reconhecimentos – exposta e considerada a partir das impressões que experimentou no momento em que ocorreram, é, antes de mais nada, resultado do correto e inventivo uso de um gravador portátil, não profissional. (E, naturalmente, da aceitação – sem qualquer certeza dos resultados, pois se tratava de uma experiência inédita – por parte da FHC, da utilidade das gravações que fazia, uma aparente oportunidade, catarse ou desabafo de alguém que vivia os segredos e pressões do poder presidencial).
No caso, a forma – ou o meio – foi tão importante quanto o conteúdo.

Temos dois casos experimentais para cotejar. O Diário de Getúlio Vargas (registros diários, anotados a mão e sinteticamente), um texto solene, de exposição confessional), iniciado no dia 3 de outubro de 1930 e que cobre o processo de ascensão e prática do poder pelo caudilho gaúcho. As anotações, porém, são contidas pelo ato de escrever, limitado pelas preocupações com a sintaxe e o espaço.

O outro são os cinco livros de memórias de JK, com ênfase nos seus “Cinquenta anos em cinco” do seu governo vertiginoso, democrático e humorado. Dono de excelente memória e com ajuda de pesquisadores e redatores excepcionais, e apesar de revelações importantes (sobre por exemplo seu método para decidir pelas soluções temerárias que financiaram sua política desenvolvimentista que violentava a ortodoxia da “teoria econômica”. Mas, o fato de ter sido escrito a posteriori, longe do momento, das pressões e contingências, remete a memória de Juscelino aos acervos frios e suspeitos da História, que depende de fontes.

No caso de FHC, casos, como a revolucionária e competente integração democrática, moderna, funcional, dos militares à sociedade civil (finalmente, os militares são cidadãos integrais, e como Ciro, o grande, rei e guerreiro, demonstra didaticamente na ciropedia suas armas não lhes pertence, mas à nação, e ao povo, de que fazem parte) com a criação do Ministério da Defesa, tem sua gênese devidamente registrada. O Ministério da Defesa não foi uma punição ou revanche aos militares, mas uma correção de distorção histórica, realizada pelos próprios militares. E disso temos prova seguindo o dia-a-dia da evolução do processo conduzido por FHC desde a sua posse, e graças à facilidade do armazenamento das impressões expostas oralmente, sob a emoção do momento por FHC.

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