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O governo não está preparado para se defender do impeachment

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A derrota do governo por 272 a 199 na eleição da comissão que vai analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma mostra o quanto o Palácio do Planalto está despreparado para esse embate. Faltam ao governo: software de atuação em plenário, gosto pela firula regimental e clareza de objetivos. Esses pré-requisitos sobram na bancada que une dissidentes à oposição.

Na primeira batalha em que os dois lados se envolveram, os pró-impeachment agiram de forma a turbinar seu talento natural para atuação em plenário. Os preparativos começaram no final de semana, quando foram alertados para a existência da brecha regimental que permite que se batesse chapa na eleição dos integrantes da Comissão Especial.

O voto secreto é outro recurso facultado aos viciados em game político, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Se a votação se destina a conferir mandato, o voto secreto pode ser uma alternativa, alegam especialistas. Só não se aplicaria nas hipóteses de punição, como, por exemplo, o caso da confirmação da prisão de Delcídio do Amaral por parte do plenário do Senado. Só loucos por regimento descobrem uma brecha como essa que permite bater chapa.

Três vezes presidente da Câmara, jurista respeitado e aficionado da boa prática regimental, o vice-presidente Michel Temer pode ser incluídos entre aqueles para quem o regimento é um autêntico missal. Seria de grande ajuda para o Planalto, mas está embargado por restrições palacianas. Eduardo Cunha tem perfil idêntico. Nesta terça-feira, seguro de que a sessão giraria em torno de dois pontos – disputa entre chapas e voto aberto ou secreto –, o presidente da Câmara preparou-se para o combate e agiu rapidamente.

Escolheu o voto secreto e passou à votação, sem abrir espaço a ponderações dos parlamentares. Resistiu às pressões, apesar da forte reação negativa do PT, cortou o microfone e fez vista grossa para atentados ao patrimônio.

Contados os votos, o governo perdeu pelas razões de sempre, malhadas pelos entendidos desde a posse:

  1. Oportunidades como essa, em que o governante depende muito da boa vontade de sus liderados, uma personalidade arestosa como a de Dilma, são um prato cheio para voto vingativo;
  2. Apesar da energia que têm gerado no tratamento da pauta do governo, os ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini estão longe de dominar a ourivesaria legislativa. Sofrem o estigma do petismo sistemático e carecem de inteligência política, como há muito diagnosticou o cientista político Murillo de Aragão;
  3. Nenhum interesse comum agrega a base parlamentar, que só funciona com o combustível do toma lá, dá cá, uma alternativa aceitável de gestão quando o governo tem alta popularidade e altos resultados econômicos para entregar.

Comparados com seu parceiro preferencial, o PMDB, Dilma e o PT são amadores, trapalhões, incompetentes. Prisioneiros de rígida burocracia organizacional, da fragmentação das tendências e órfãos da liderança de Lula, hoje alvo de investigações que já alcançam os companheiros.

A presidente e seu partido formam um organismo debilitado e com baixa imunidade, no momento que mais precisam de boa saúde para enfrentar o impeachment, o pior inimigo político que se poderia imaginar. A epidemia de maus resultados econômicos se encarrega do restante. É quase impossível reagir com um prontuário desses.

 

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