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2016, mais um ano de gerência de crise

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Em 2013, milhões de pessoas foram às ruas protestar contra a má qualidade dos serviços públicos. Educação, saúde, segurança e transporte sempre estiveram no topo da lista da insatisfação da população. De acordo com o Ibope, a desaprovação com a educação em setembro de 2013 era de 65%; saúde, 77%; segurança, 74%.

Os brasileiros foram às ruas porque, embora percebessem que suas vidas haviam melhorado da porta de casa para dentro, da porta para fora os serviços públicos ainda precisa melhorar muito e em várias áreas. A insatisfação era latente, mas ninguém percebia. A cortina de fumaça que impedia a percepção desse quadro estava evidente nos índices de aprovação do governo que, de 63% em março de 2013, caiu para 31% no auge dos protestos.

A gota d´água foi o aumento nas passagens de ônibus. Uma correção na tarifa de “apenas” 20 centavos foi suficiente para fazer a população finalmente acordar. Absolutamente atordoados, os agentes públicos não sabiam como reagir. A situação econômica relativamente favorável fez com que a população se recolhesse novamente. Em 2013, o PIB cresceu 2,3%. O desemprego fechou o ano em 5,4%.

Em 2015, sofre-se os efeitos da crise. Diferentemente de 2013, quando estava do lado de fora das casas, hoje ela instalou-se dentro das residências. O PIB deste ano deve encolher de 3,5%. Em outubro, o desemprego atingiu 7,9%. As estimativas para a queda da economia em 2016 já ultrapassam a casa dos 3%. A inadimplência aumenta. “Acabou o negócio de Danone”, disse a primeira brasileira inscrita no Fome Zero, criado no governo Lula.

No ano que vem, a economia deverá continuar sofrendo os efeitos da crise. Segundo projeções o desemprego ultrapassará os dois dígitos, algo que não acontece desde maio de 2007.

O aumento da inflação e dos juros, a queda na renda dos trabalhadores, o declínio do PIB e as denúncias de corrupção fizeram a popularidade da presidente Dilma Rousseff despencar após as eleições. De acordo com o Datafolha, 42% avaliavam o governo como ótimo ou bom em outubro do ano passado. Na última sondagem, realizada em agosto, são apenas 8%.

As dificuldades e os problemas de 2015 trouxeram o debate do impeachment da presidente para o centro da cena política e aí o conservaram o tempo todo. Ele foi tratado na imprensa, no Congresso, no Supremo, no TSE, no mercado financeiro. Apesar de alguns movimentos sociais também defenderem o afastamento da presidente, o tema não atraiu adesão popular significativa.

Diante disso, uma pergunta se impôs: por que a vida das pessoas piorou ao longo de 2015 da porta para dentro e elas não repetiram a reação que tiveram em 2013? Uma das respostas possíveis é que em 2015 talvez elas estejam mais preocupadas em manter o que conquistaram. Ou têm medo de criar mais instabilidade. Outra é que, embora grave, a situação ainda não piorou o suficiente. O desemprego continua abaixo dos dois dígitos.

Com a possível piora da economia no próximo ano, o humor da população pode mudar. Assim como os 20 centavos de aumento da tarifa de ônibus em 2013, o desemprego pode ser o detonador de uma explosão social. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apontou riscos de tensão no próximo ano.

A presidente Dilma Rousseff começará o ano pressionada. Como o ambiente político deverá continuar hostil e sua popularidade baixa, ela seguirá encontrando dificuldades para enfrentar a crise. Tal como 2015, 2016 será um ano de gerência de crise.

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