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O tempo não para

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Uma das características dos políticos brasileiros é o desprezo para com as agendas e os compromissos. Em suma, para com o tempo. Seu e dos outros. Raramente chegam na hora combinada e muitas vezes cancelam agendas poucos minutos antes.

Muitos devem sentir prazer em dar “chá de cadeira” naqueles que penam para ver atendido, por exemplo, um pedido de audiência. É assim, e sempre foi, em Brasília. Herança do passado colonial e imperial. De uma sociedade subalterna, acostumada a rastejar perante os poderosos.

O governo Dilma Rousseff não só agravou essa situação como conseguiu inovar. Além de não receber, não falar e proibir seus ministros de falarem, fragilizou ainda mais a lógica do uso do tempo. Trabalha com um cronógrafo próprio, como se Cronos fosse seu criado.

Já se disse que o maior arrependimento daqueles que se vão é o tempo perdido. Talvez esta seja a marca do atual governo: o mau uso de um bem escasso. Na Fazenda, o comando da economia, despacha um ex-ministro demitido há quase três meses. A credibilidade fiscal e econômica do país sangra dia após dia.

Sai semana, entra semana e um mercado acionário inquieto e volátil agrega custos ao já intenso custo Brasil. Sem falar no risco de perda do “investment grade”. Há ainda uma grave crise política que corrói devagar as entranhas do poder e pode inviabilizar muitas lideranças políticas.

Tudo aponta para uma solução forte destinada a blindar o ambiente econômico das turbulências. Porém, o tempo corre, o tempo voa e nada da nomeação de uma equipe econômica “independente e experiente”, como sugeriu a ex-ministra Marta Suplicy em sua carta de demissão à presidente.

Quem sabe, tendo em vista os acontecimentos da semana passada, o país seja surpreendido positivamente na próxima com a escolha de um ministro da Fazenda que atenda às expectativas generalizadas, embora nada disso pareça sensibilizar o governo, que se dedica a uma só coisa – procrastinar.

Na mitologia, Cronos comeu os próprios filhos. No Brasil, está engolindo o tempo do governo.

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